domingo, 23 de setembro de 2012

Dos que amam e não entendem



♫ (...) “Não pense que eu não desejei,
não diga que eu não quis,
é só que eu me assustei
 ao me ver tão feliz...” ♪
Romeu - Agridoce


As palavras lhe diziam o que ele significava, as músicas cantavam em seus ouvidos a poesia de seu sentir e seu tolo coração batia fora de compasso ao pensar no sentimento. O rapaz já pensara ter conhecido o amor, mas ao crescer percebeu que tudo o que conhecera fora apenas esboços malfeitos por sua ingenuidade em enxergar que ele não estava lá. A vida ou tempo ou destino, entenda você como quiser, lhe mostraram que aquele tal amor possui uma ambiguidade assustadoramente confusa e então ao invés de continuar seu percurso em busca dele, ele desistiu. Desistiu por não querer se enganar mais. Desistiu por medo de sofrer. Desistiu, até mesmo, por medo de amar.Ele acreditava, porém, que o sentimento rubro sondava sua vida, escondido em esquinas e esperando que seus passos lhe guiassem ao seu encontro, mas o rapaz sempre tomava um caminho diferente. O amor e ele se desencontravam constantemente, embora tenham se esbarrado repetidas vezes e ele não reparou que estivera perto. Tão perto que seu coração batia mais acelerado e depois suspirava de decepção pela estupidez de seu dono. Talvez você conheça esse rapaz, ele é extraordinariamente comum e pode ser visto em qualquer lugar. Você pode topar com ele em um café, pode cruzar seu caminho numa rua movimentada, pode sentar ao seu lado no ônibus ou metrô. Se você prestar atenção pode vislumbrar fagulhas de sorrisos desprendendo de seus lábios, pode avistar uma aura de alegria que ele emana e pode, se muito atentamente observar, desvendá-lo. Ele caminha de mãos dadas com a solidão, de olhos distraídos para os sentimentos que o cercam. Estranhamente bobo e encantadoramente charmoso. Sabe responder as perguntas mais difíceis, mas se confunde com as mais simples, ele sempre busca uma profundidade onde não há. Pergunte-o sobre seus livros e filmes preferidos e tome um banho de exclamações animadas e sugestões. Pergunte-o sobre os segredos de seu coração e afogue-se num silêncio impenetrável. Esse rapaz, familiar ou não para você, possui um otimismo arraigado em seu ser e mesmo quando quer ser pragmático soa como um idealista e carrega um brilho nos olhos que denuncia que por trás de uma fachada, ora carrancuda, ora sorridente, há alguém cuja fé ainda respira e cuja esperança brota de uma fonte aparentemente inesgotável. O amor? Ele está lá também, dentro dele, perdido no intrincado labirinto que ele criou para aprisioná-lo. Ele quer que o amor vença suas barreiras, quer compreendê-lo, quer senti-lo de forma tangível. Ele é um rapaz que busca certezas e este é seu defeito mais cruel, pois certezas não existem na realidade, principalmente quando se trata do amor. Ele ainda tem suas dúvidas se sabe amar ou não e enquanto a resposta derradeira não vem, que ele ame.Que ame até perceber que esteve amando durante todo o tempo que quis entender o amor e que assim continue.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Aos iguais de coração




A vontade da certeza de entender perguntas vãs se desfez no momento que passou a sentir. Os pés descalços, a grama entre os dedos, o vento nos cachos meio emaranhados, os olhos grudados no céu limpo de um Verão bonito, os dedos que contornavam o formato das nuvens preguiçosas que enfeitavam a imensidão azul.

E ela entendeu que o tempo descansa nesses momentos singulares, momentos que dão sentido ao sentir que emana dos detalhes, pequenos, amenos, quase imperceptíveis, mas no fundo, cheios de fundo, meio sem rumo encontram um lugar no extremo de cada canto - recanto para o encanto que nos habita.

Há de haver muito mais entre os iguais de coração. Nada foi feito para durar - foi o que ouvir falar. Mas a verdade é que tudo o que realmente importa se eterniza ao seu modo, quem define o tempo somos nós, que achamos que somos escravos desses ponteiros desvairados, que com pressa nos atingem sem maiores explicações, mas cabe a nós encher o peito de paz, seguir aquele caminho cujos olhos brilham mais. E no mais, fica tudo assim, com jeito intrínseco de tocar a vida.  

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Um frio que suplica um aconchego





Eu poderia falar do tempo que não sabe em que estação quer firmar-se; poderia gastar horas descrevendo as cores do céu indeciso de fim de tarde; poderia falar da saudade sonolenta que a brisa tranquila deixa a cada toque delicado; poderia até lhe escrever uma carta piegas, falando do quanto eu gosto de gostar de você. E posso tudo isso, porque poder é verbo bonito de se conjugar.

E quando eu paro um pouco só para suspirar entre um pensamento e outro, vejo que às vezes tudo pode ser de um jeito não esperado, ou até esperado secretamente, porque tenho essa mania esquisita, sabe? De imaginar-me velha como aquela senhora que admiro sorrindo para o senhor ao seu lado, que sorri de volta cordialmente e os olhos brilham, de ambos. Eu poderia ser menos descrente de tudo, sei bem, mas não sou, mesmo que o mundo ande tão assim, meio torto. Mas não culpo o mundo não, no fundo são as pessoas que enchem o peito de vazio só para ouvir a própria dor ecoar por seus cantos.

Bem, as coisas são assim, não é mesmo? Dizemos isso o tempo todo tentando nos fazer entrar num conformismo morno de quem não vê mais jeito para o mundo. Mas dentro de cada ser tem um espaço esperançoso que rege todas as outras coisas guiadas pela vontade do querer; do poder. E tudo vai fluindo bem desse modo, implorando olhos para denotar seus detalhes que devotadamente fazem orações ao tempo para não os deixar passar rápido demais, pois precisam ser notados; precisam ser descobertos para mostrar que tudo pode ter sim um pouco mais de magia; um pouco mais de amor para encher os peitos, os estômagos, os poros de cada ser pulsante.