Irônica até toda essa história, porque quando fiquei ali buscando em contos de utopias inexistentes um ombro pra chamar de meu, só achei palavras que nunca me pertenceram. Queria mesmo que minha vida imitasse aquelas tantas que eu admirava, queria em segredo e nem admitia pra mim mesma porque tinha vergonha de parecer boba, e na verdade era.
Teci em linhas imaginárias aqueles amores dos filmes e novelas, uma tola com o peito imaturo e a vontade do mundo de cair por terra, terra que envolve aquele lado emocional e frágil que todo mundo tem. Não sabia ainda que o amor tinha vontade própria, e que não adianta greve de fome, sinal de fumaça, coisa alguma, ele faz o que quer fazer.
Então foi bem assim, de modo despercebido e inesperado que caí, na verdade fui empurrada pelo próprio sentimento inexplicável, e o engraçado é que ao me derrubar voltou-se para o chão para amortecer a queda. Não sabe se faz rir ou chorar, não se decidiu. E não se decidiu porque não tem a intenção de fazer-se compreensível, a graça mesmo estar em mexer com a cabeça da gente.
Começou assim aquele bordado cheio de cor, às vezes quando perdia o ponto tentava voltar, mas as marcas ficavam lá, tecidas de dor. Não achei tão ruim assim, na verdade, achei sim, mas depois que passa a gente consegue ver melhor, as coisas são assim, digo sempre pra mim mesma tentando encobrir que na verdade, são as pessoas que são assim.
De tudo, às vezes acho que aprendi tanto que me imagino velha, enxergo até rugas quando começo com aqueles conselhos que não sigo, e às vezes acho que ainda não aprendi nada, porque ainda cometo erros aos quais já havia me prometido acertar, e no fundo mesmo não sei de coisa alguma diante daquilo que quero sentir, porque o saber é importante sim, mas o sentir, há, esse não cabe nem aqui nem em canto nenhum. Quem conhece a etimologia do amor sabe bem do que falo; quem conhece os olhos do amor sente bem o que falo. Falo do amor que acalenta - do amor que dói - do amor que tece.